dinheiro
regularmente, o dinheiro me repreende:
“por que me deixa aqui parado, inutilmente?
sou tudo o que você jamais teve, em bens e sexo,
você inda pode conseguir, é só fazer o cheque.”
eu olho para os outros, o que fazem da grana,
decerto não a deixam debaixo da cama.
todos têm casa nova, carro novo, mulher nova:
dinheiro é vida, eis a prova.
de fato, têm muito em comum, se você reparar:
não se pode adiar a juventude até se aposentar,
gozo pago como for, o dinheiro que se poupa
não compra, no fim, mais que um prato de sopa.
eu ouço o dinheiro cantando. é como um panorama,
visto de altas janelas, duma cidade provinciana,
os cortiços, o canal, igrejas de agulhas em riste
ao sol da tarde. é profundamente triste.
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é um poema de phillip larkin em tradução de luiz roberto guedes.
encontrei na revista coyote número 15, inverno – 2007