canto para matamba
eu canto os estampidos de matamba
paixão nas faíscas de zaze
mulher búfalo – beleza pura do benin
oiá ô eparrei eparrei eparrei
olha o vento na saia dela oiá ô
olha a chuva no cochicho dela oiá ô
eu canto as ventanias de matamba
porque quando o alízio desce
porque quando o siroco sobe
cicia malícia no pelo do ventre
como um baque de delicadeza
então eu canto pelos pelos dela
meus passos sob atabaques
cuícas de uagadugu koras de dakar
meus passos pelas cortes do sahara
e os batuques de tumbuctu
ela zanza com pés de gato
e pele de leopardo
ziguezague nas terras de zambi
seu corpo eletrificando
as fuligens do seu amado
carrega o cântaro de tempestade
o sangue o azeite e o vinho de palma
mas não nada de meio termo
sangue do mais vermelho
derramado das veias da vida
derramado das veias da morte
sangue espesso fervido no metal quente
sangue ardente colhido para fioritura
eu canto a beleza de matamba
e o batuque das nuvens de chumbo
entre as chuvas e as tempestades
derramadas das veias do amor
eu canto a labareda de matamba
eparrei eparrei oiá ô
*este poema apareceu pela primeira vez entre as “folhas de girapemba“.
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um pouco de vocabulário pode ajudar a curtir melhor:
dakar: capital do senegal
kora: instrumento de cordas, muito tocado pelos griots do senegal.
matamba, oiá, iansã, motumba, bamburucema, santa bárbara: são alguns dos muitos nomes de um dos orixás mais respeitados nos terreiros do Brasil e da iorubalândia (que inclui nigéria e Benin). primeira esposa de xangô, mulher independente, guerreira, a palas atena do panteão afrobrasileiro.é ela a labareda, dos afro-sambas de vinicius de moraes e a rainha dos raios de caetano/gil.
tumbuctu: importante cidade às margens do sahara.
uagadugu: importante cidade do noroeste africano, capital de burkina faso.
zambi: o nome banto de olorum. divindade que corresponde a “deus” na simbiose afro-cristã.
zaze: é o nome banto de xangô.
lindos versos no ritmo do vento…
vai pros meus favoritos.
abração,
geo