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Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

vai haver a luta contra o m.a.l (movimento anti-lula)?

podem falar o que quiserem, entre todas as opções que estão aparecendo no mercado, cada vez mais eu reafirmo: voto no lula este ano se ele sair mesmo como candidato.

da imprensa, os jornais apontam seus mísseis. usam cada palavra dele contra ele mesmo. as manchetes não perdoam. e eles usam de todos os recursos visuais e outros mais para pintá-lo como um verdadeiro demagogo-populista.

o curioso é que o arroz hoje custa R$8,00 e no governo fhc custava R$13,00. o dólar caiu sem ser indexado. o povão está feliz com ele. e eu acho q os mísseis não alcançarão a meta.

direito autoral: seja criativo

uma das questões que mais têm me interessado recentemente é a dos direitos autorais. como e o que fazer do copyright, do copyleft. que tipo de relação os autores têm com a sua obra e como é possível buscar uma saída alternativa à mera proibição de reprodução que aprendemos a ver nas capas de discos e começos de filmes de locadora.

 

daí, na semana passada, o marcelo terça-nada, meu amigo do vírgula imagem colocou no seu blogue uma dica ótima: o site do creative commons, que tem um filme bem legal explicando de uma maneira ótima o que se pode fazer quanto a isso. o site, aliás, é bem rico em informações. para quem quiser saber mais os detalhes: é só clicar na logomarca da creative commons. não me demorarei muito explicando, pois lá já diz bastante.

dansa é com “s” ou com “ç”?

os dicionários grafam sempre com ‘ç’. mas gosto de escrevê-la com ‘s’, dansar. segundo o houaiss, esta palavra vem do francês (“danser”) que já a escrevia assim, no ano de 1170. na língua portuguesa, também era assim até a primeira reforma ortográfica do século xx, em 1944.

porém, guimarães rosa, que publicou seus escritos somente a partir de 1954, sempre grafou o vocábulo assim: dansar. “uns mosquitnhos dansadinhos, tanto de se desesperar”.

a explicação que mais gosto está no livro de antônio risério, o oriki orixá: “numa conversa, a bailarina suki [villas boas] me disse que achava uma contradição escrever “dança” com “ç” e não com “s”, já que o “ç” era uma letra visualmente capenga, desengonçada, enquanto o “s”, em seu desenho sinuoso é uma letra danSarina.”

risério, que, como eu, é filho da deusa da dansa e do vento, achou que suki estava com a razão. e eu também acho.

a divertida história do padre que se pintou

o padre pinto pintou a cara na bahia. o vaticano não gostou. mandaram ele descansar. acho que só os padres jesuítas se deram o direito de dansar com os índios no brasil. será que só no brasil é que já se viu um padre dansar?

o padre pinto pintou a cara, pintou o corpo, cantou com o povo, fez dansa de roda no dia de reis, desmunhecou como no carnaval. foi jurado no concurso de beleza negra, passeata beneficente pela rua. um verdadeiro herói. merecia ser celebrado num livreto de cordel, cantado pelas bandas de axé e de hip hop, virar samba de enredo. um ícone do terrorismo poético. uma verdadeira lenda viva. deveria ser canonizado pelo povo.

que a igreja católica mande ele passear, não assusta a ninguém. afinal, o sonho da maioria dos padres era fazer o mesmo, não? só não fazem por medo do papa. e o medo, todo mundo sabe, é uma das drogas mais pesadas.

e ele ainda disse, com aquele arzinho de pessoa ingênua e do bem: “é melhor se pintar por fora do que se manchar de hipocrisia por dentro”.

tem kafka no kafé k

tá rolando lá no francisco nunes. além da excelente peça “a acusação”, tem o kafé k. e nele, uma exposição-instalação onde você encontra trabalhos, entre outros, do michel (o dos olhos de mel) mingote. para ver a programação, procure aí nos linkes o site do “grupo oficcina multimédia”. se vira, pô, você não é quadrado (a). mas vá rápido, porque é só até o dia 22 de fevereiro.

 

 

áfrica, essa desconhecida

é o poeta antônio risério quem lembra a imensa dificuldade que há em se falar da áfrica. nossa ignorância sobre o assunto começa em nós mesmos. por mais óbvio que seja, sempre que falamos de coisas d’áfrica, pensamos a partir dos preconceitos e dos desvios que a história deixou. seria ocioso ficar lembrando as inúmeras vezes que falamos desse continente demonstrando profunda falta de conhecimento sobre o assunto.
recentemente incluído nos programas do ensino fundamental do mec, a história da áfrica é agora um assunto urgente e a nossa ignorância precisa acabar. nesse sentido, o livro que a editora crisálida publicou recentemente é uma lamparina no meio da escuridão. nele, os autores (uma angolana radicada no brasil e um brasileiro) demonstram extrema paixão pelo tema e se a obra peca em algum sentido, é porque o caráter introdutório não permitiu que os autores se prolongassem nos detalhes. adianto que cumpre bem o papel de história crítica.
“usualmente, associamos idéias e noções estereotipadas que constroem e são construídas por uma imagem de uma áfrica tribal, tradicional, arcaica, com negros em trajes pré-industriais e armas primitivas, buscando seu alimento nas savanas. nestas representações, a áfrica aparece como distante, como separada de nós por alguns séculos. sugerem que nós, (os tupiniquins) participamos da civilização ocidental e nisso nos distinguimos dos “negros-africanos-tribais”. procuramos buscar elementos que mostrassem os limites dessa simplificação e que colaborassem para pensarmos o continente em outros moldes.”

é o que os autores dizem na introdução à introdução. de minha parte, gostaria que muitas coisas ainda neste mundo começassem a ser pensadas em outros moldes. mas se começarmos apenas por esse, já será um grande começo.

deu ontem no O (perda de) Tempo

o jornal o (perda de) tempo publicou ontem no seu caderno magazine uma excelente matéria assinada por bruno loureiro. nela, aparecem comentários de makely ka, zéfere, alguns editores e este salamalandro que vos fala. o assunto é o mercado editorial e sua difícil-dificultosa relação com os poetas nascentes (e/ou vice-versa).

é preciso dizer que loureiro merece louros pelo trabalho. enquanto conversávamos, pude ver que ele perscrutava o assunto com curiosidade, levantando as questões primordiais, como um detetive, e pelo resultado, deu pra ver que ele correu atrás. é raro um jornalista que faz isso. normalmente, eles estão apenas preocupados em reafirmar o que já sabem ou que estão engastados num não-saber-agindo-
como-quem-sabe-porque-a-verdade-jornalística-é-eterna-e-única-acima-
de-todas-as-outras.

mesmo assim, na página impressa, aparecem equívocos e distorções. na legenda sob a minha foto, o editor declara que estou “desiludido com as leis de incentivo e os concursos literários”. ora bolas, eu jamais diria uma bobagem dessas. as leis de incentivo são uma excelente conquista para quem produz e vive de bens culturais. são passíveis de críticas, é claro, como tudo nesta vida (e especialmente no nosso país da batucada). mas eu não diria propriamente que estou “desiludido”. na verdade, podem achar paradoxal, mas eu nem mesmo lamento o estreito espaço que existe para os “neófitos”.

o que eu queria dizer, e não está expresso no artigo, é que o poeta iniciante que se ilude com a idéia de recorrer à lei pode ficar decepcionado com o resultado. e que, se o escritor pretende realmente publicar suas palavras, que recorra a algo mais certo, e isso em linguagem poética quer dizer que ele deve “fazer justiça com as próprias mãos”. é assim há muito tempo, não há nada de mais. pelo contrário, é sinal de a(r)titude. e o papel do artista na nossa sociedade não é o de sair publicando livros por aí: é fazer com que a bomba exploda em algum lugar. e isso não acontece se não houver atitude.

eu poderia ficar aqui citando uma imensa lista de nomes: borges, juan gelman, manuel bandeira, drummond, paul éluard e por aí vai. infelizmente (ou felizmente) todos eles tiveram que bancar o seu primeiro livro. c’est la vie. é como me disse o meu amigo ian guest: “não adianta ficar lutando contra os buracos na calçada”.

concordo com o juan: o simples fato de existir pessoas fazendo poesia já é um ato subversivo, mas isso não quer dizer que essa pessoa vai arranjar editores da noite pro dia porque revelação é uma coisa e subversão, outra muito diferente. e, não dá pra esperar que aconteça como na música, na prosa e nas artes dadas ao consumismo: o escritor precisa mesmo é ralar ralar ralar. não apenas para ser um bom escritor: alguns dos nossos melhores poetas, de pedro kilkerry a sebastião nunes, quase não são lidos.

a lista dos mais vendidos é uma das manifestações do que eu chamo de “desvios psíquicos da imprensa de rapina”: só tem serventia na sociedade consumista. e o público leitor de poesia (multidão de sanchos panças), no momento em que estão procurando versos para ler, não se encaixa nessa dita sociedade. “o sucesso não vem por acaso”, não é seu lair?

mas, enfim, podemos sobreviver a esse jornal. afinal, imprensa é assim mesmo. não se preocupa muito com a exatidão das palavras, muito menos com o que vão pensar (d)os seus entrevistados. e pra terminar bonito essa bonita postagem, vou citar o jorge luís borges (quem diria!) que diz: “passemos à poesia; passemos à vida. e a vida, tenho certeza, é feita de poesia.” (atenção: feita de poesia, não de jornalismo) e para completar os dizeres do velho jorge: “livros são apenas ocasiões para a poesia”. precisa dizer mais?

campanha de popularização do teatro

em belo horizonte, todo mundo sabe: para quem não sai para a praia no verão, tem a campanha de popularização do teatro. há pouca movimentação cultural para além disso na cidade. os artistas esquecem a existência, as galerias fecham (a maioria), os músicos vão para o litoral baiano, só alguns poetas ficam por aqui fazendo o mesmo de sempre: reclamar e tomar café. uma cervejinha de vez em quando também.

mas a campanha de popularização do teatro, também conhecida como campanha das kombis, é um projeto interessante. não é um festival. não é uma celebração. não é uma iniciativa governamental. tenho a impressão de que é quase um protesto público dos atores que dizem “hei, nós existimos”. e, vendendo seus ingressos a um preço único e módico (este ano está custando R$7,00), o teatro mineiro contemporâneo, pouco a pouco, acabou por tomar um fôlego, produzindo peças que vão além das meras comédias de pornografia para a família e piadas baratas sobre o homossexualismo com péssimos atores.

este ano a campanha está na 32ª versão. pouca coisa dura tanto tempo nesse país da batucada. a cena belorizontina fica fria o ano inteiro. então, no calor do verão, os atores se empenham e apresentam dezenas de peças que atendem a todos os gostos e de todas as qualidades. a idéia é tão interessante que não entendi ainda por que os artistas das outras áreas não criaram algo parecido para eles. imagino que um projeto assim voltado para a música, a poesia, mesmo para as artes plásticas, poderia ser o princípio de um acontecimento inédito no país: a possibilidade real de interação entre artistas e público.

já ouvi dizerem que na verdade esta é uma “campanha de vulgarização do teatro”. mas mesmo isso acabou por tornar-se uma desculpa esfarrapada. é certo que a maioria das peças primam pelo mau gosto, a falta de preparação dos atores, enredos e temas apelativos e comédias de riso tragicamente fácil. mas pude ver algumas peças nesta temporada que me reafirmaram o que eu já sabia: existe teatro bom em bh (eu não era capaz de dizer isto há dez anos atrás). ainda não é a maioria, infelizmente. mas com três grandes escolas na cidade e alguns grupos premiados, como é o caso do galpão, giramundo, luna lunera e cia espanca, podemos finalmente esperar fortes emoções. mas independente da qualidade, precisamos jogar fora os preconceitos e constatar ao menos esta verdade: a iniciativa da classe teatral é um grande exemplo a se seguir.