Todos os posts de Leo Gonçalves

Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

tonico mercador homenageia allen ginsberg

o poeta tonico mercador tem um gosto um pouco parecido com o meu. lembro-me que há alguns anos atrás, eu me interessei pela poesia de julio cortázar e comecei a traduzi-lo. alguns meses depois de começar a empreitada, encontro na revista palavra, a sua tradução de alguns poemas do cronópio sobre o maio de 1968. coincidências.
recentemente, tenho estado muito afim de fazer uma homenagem a allen ginsberg. especialmente porque este ano completaram dez anos da morte dele. um cara genial que não pode ser esquecido. e eis que o tonico mercador se prepara para homenageá-lo na apresentação na próxima terça-poética. provavelmente vai apresentar o trabalho que vem fazendo há algum tempo: declamação do poema “uivo” junto a poemas de sua autoria.

terça-feira, dia 14 de agosto de 2007
às 18h30, como de costume.
nos jardins internos do palácio das artes.

evohé! saravá! boa sorte tonico. uma pena que não poderei estar lá. infelizmente estarei dando uma aula no mesmo horário. mas fico torcendo para a dose se repetir em breve.

rodrigo chorinho

faço parte de uma geração privilegiada. em belo horizonte, convivo com alguns dos melhores músicos do país. aqui ainda não se tornou um grande pólo como difusão de discos, mas os artistas vivem sendo exportados. kristoff silva, érika machado, vítor santana, regina spósito, dudu nicácio, makely ka e maysa moura, marina machado, o sérgio pererê e o grupo tambolelê. a lista não acaba.

mas hoje eu quero falar de rodrigo torino. fui ontem ver a apresentação que ele fez lá no teatro francisco nunes. no programa, chorinho. principalmente composições dele. mas também: guinga, joão gilberto, maurício carrilho e baden powell.

rodrigo foi o ganhador do prêmio bdmg jovens instrumentistas. faz o curso do mestre maurício carrilho no rio de janeiro, onde aprende a fazer um choro moderno, diferente daquela coisa folclórica que (embora linda) sempre acaba ficando.

o que me pareceu surpreendente foi que, aquele músico tímido que conheci há mais de dez anos se tornou agora um artista completo. um compositor pronto, com senso de grupo e boa regência de toda a música no ato de tocar os arranjos feitos pelo grupo (um amigo me dizia que música só é música quando tocada ao vivo e a cores) – o que se revela principalmente nas composições dele. músicas como “duas saudades” trazem todo um gostinho brasileiro irmão de grandes mestres. há também outras composições como “em três”, onde os acordes delicadamente dissonantes se combinam com o compasso ímpar.

quando o assunto é interpretar, o cara não deixa para menos. me delicio em dizer que peças de baden, guinga e joão gilberto não são as mais bonitas do repertório. mas nelas também se revelam os bons instrumentistas da banda que faço questão de nomear aqui: dudu braga (cavaquinho), alaécio martins (trombone), nilton moreira (flauta), ramon braga (bateria e percussão), a participação especial do baixista italiano tommaso montagnanni e o próprio rodrigo torino (violão de sete cordas). vão dizer que sou suspeito para falar? então tome uma palhinha no my space:

www.myspace.com/rodrigotorino

what can i hold you with? (um poema inglês de jorge luis borges)

de que modo eu posso te abraçar?
eu te ofereço estreitas ruas, poentes desesperados, a lua dos subúrbios gastos.
eu te ofereço a amargura de um homem que olhou longamente a lua solitária.
eu te ofereço meus ancestrais, meus mortos, os fantasmas que os vivos honraram em mármore: o pai do meu pai assassinado na fronteira de buenos aires, duas balas atravessadas nos pulmões, barbado e morto carregado por seus soldados no couro de uma vaca; o avô de minha mãe – com apenas vinte e quatro anos – encabeçando uma carga de trezentos homens no peru, agora fantasmas sobre desvanecidos cavalos.
eu te ofereço qualquer insight que possa haver em meus livros, qualquer hombridade ou humor na minha vida.

eu te ofereço a lealdade de um homem que nunca foi leal.

eu te ofereço o cerne de mim mesmo que achei de certo modo – o coração central que não aposta em palavras, que não trafega com sonhos e é intocado pelo tempo, pela alegria, pelas adversidades.
eu te ofereço a memória de uma rosa amarela vista ao pôr-do-sol, anos antes de você nascer.
eu te ofereço explanações sobre você mesma, teorias sobre você mesma, notícias autênticas e surpreendentes sobre você mesma.
eu posso te dar a minha solidão, a minha escuridão, a fome do meu coração; estou tentando subornar-te com incertitude, com perigo, com derrota.

(tradução: leo gonçalves)

o borges é um sujeito muito raro. melhor conhecido como prosador, foi também um grande poeta – um marco da lingua castelhana, grande influência de gerações e gerações na literatura argentina. e não só: também produziu bons ensaios sobre o tema, sendo que hoje, um poeta interessado em se aprimorar conceitualmente sobre sua arte perde muito se não tiver acesso às essas reflexões. por outro lado, sua posição conservadora se refletia em sua produção. isso não o impediu de ser um dos mais transgressores artistas do século xx. curioso é que como poeta, a preferência é por uma forma mais tradicional (quem se interessar, publiquei aqui no salamalandro há algum tempo um soneto dele chamado “swedenborg”). voltando de diamantina, tive o desejo de ler poemas dele. qual não foi a surpresa ao encontrar este poema que me parece esteticamente “selvagem”, apaixonado e racional ao mesmo tempo. e escrito em inglês! quando eu gosto tanto de um poema assim, fico emocionado e preciso “lê-lo melhor”. e “ler melhor” significa traduzir. não quis pôr o original aqui porque o blogspot não oferece muito bons recursos na formatação do poema e com esta trabalheira já basta o poema em português. mas quem quiser conhecer o original (é sem dúvida muito mais bonito que a tradução), é só clicar aqui: www.primrose.com/borges

Festival de Inverno UFMG, Diamantina – 2007

Leo Gonçalves & Patrícia Mc Quadena glória! eu também estou aí,/ estou aí o que é que há/também tô nessa boca!

Antonio Cíceroagoral: poesia e pensamento no centro do agora.Antonio Cíceroturma bonita: oficina “a arte do poeta” com antônio cícero

Rufo Herrerarufo herrera: palestra-show sobre o bandoneon. poesia em foles: fôlego.

Na Ozzettinoite musical: na ozzetti

Família Reisfamília reis, choro diamantinense, bonito e sofisticado feito por mãos simples.

Michelle Andreazzicapim seco, cantando no escuro.
voz linda da cantora. timbre raro. mpb e clássicos da mpb.
ficamos sonhando ouvir as músicas da banda.
mas a promessa já foi feita.

Fabrícia“por que você não rasga essas cartas de amor?”, ela dizia.

é a fabrícia. ela não tem só cara, ela é rebelde mesmo. sarau agoral: poesia aqui e agora.

Luciana Tonelli, Vera Lúcia Casa Nova e Álvaro Andrade Garcialuciana tonelli, vera casa nova e álvaro andrade garcia, trio de gente bacana. no cabana.

Leo Gonçalves & Patrícia Mc Quade

luzes acesas/vozes amigas/

chove melhor

(alice ruiz)

o haicai da cecília

Patrícia Mc Quadeguardar uma coisa é olhá-la, fitá-la. (em primeiro plano: patrícia, a famosíssima “minha namorada”)


malas prontas: diamantina, um brinco de cidade

Leo Gonçalves & Patrícia Mc Quade

um poema de antonio cicero

guardar

guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
em cofre não se guarda coisa alguma.
em cofre perde-se a coisa à vista.

guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela,
isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.

por isso melhor se guarda um vôo de um pássaro
do que um pássaro sem vôos.

por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
para guardá-lo:
para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
guarde o que quer que guarda um poema:
por isso o lance do poema:
por guardar-se o que se quer guardar.

belvedere bonito de ver

de vez em quando, aparecem estrelas no meio da rua. demorou para verem que o chacal está na área. há 35 anos atrás, o torquato neto avisava na sua geléia geral que tinha um cara na área. hoje, passada muita zoação, muita festa, muito baco, muito cep20000 e tontas coisas… já era hora.

o belvedere do chacal tá lindão. da coleção ás de colete, da parceria 7letras/cosacnaify. uma capa verdona e um adendo chamado quamperios pra dar o clima da época do mimeógrafo.

chacal explica:

belvedere é um lugar que você vai para ver a vista. tinha um no final da serra das araras, na rio-são paulo, onde eu parava sempre que ia para Mendes com a minha família nas férias. naquele tempo, as viagens de carro eram custosas. depois de algumas horas rodando, chegávamos ao belvedere. era a festa. comer, beber, correr. assim é que eu me sinto aqui neste livro. depois de 36 anos de exercício poético e 13 livros publicados, dou essa parada estratégica para ver a vista. espero que você, leitor, possa se alimentar e se divertir, possa ler, ver e ouvir.

saravá! evoé!

acho que cai bem pra ocasião, o penúltimo poema do primeiro livro dele: o muito prazer.

sorte

hoje deu meu número na roleta da vida