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Todos os posts de Leo Gonçalves
e uma boa notícia
o outro toque também vale a pena, e encontrei no blogue da cidinha: é que a nossa querida ex-ministra marina silva acaba de inaugurar sua coluna na folha de são paulo. acredito, numa boa, que com esse espaço ela pode nos oferecer discussões que ultrapassem a rasura típica da imprensa brasileira, que quer tratar de assuntos sérios sempre com superficialidade e desinteresse.
INICIO MINHA participação neste espaço com enorme sentido de responsabilidade. Tenho a oportunidade diferenciada de usar um dos bens culturais mais preciosos: a exposição de idéias, base para o diálogo. Gostaria de compartilhá-la com os leitores e de, juntos, pensarmos o Brasil e reunirmos forças para ajudar a transformá-lo. Para começo de conversa, trato de um entrave para o crescimento do país: a postura ambígua do Estado frente ao nosso incomparável patrimônio natural.
endereço:
www.cidinhadasilva.blogspot.com
uma notícia esquisita
há muito tempo que coloco aqui neste blogue, sempre que a revolta bate, uma cutucada em coisas do mundo das quais não me conformo. amigos meus já comentaram várias vezes sobre a minha birra da revista veja, que não merece de forma alguma o título de maior semanário do brasil. agora, circulando pelo meu blogário, encontrei uma notícia que me tirou um pouco a solidão da rebeldia. estou falando do blogue de maria frô, que periodicamente coloca questões sérias e lamentavelmente pouco discutidas. como o caso dos jornalistas que escrevem uma manchete sobre um escândalo político no pt, quando a notícia é sobre o psdb. um verdadeiro jornalismo de ma fé, ou imprensa de rapina, como eu costumo dizer.
endereço:
www.mariafro.blogspot.com
abdias nascimento: noite do griot
quinta-feira, dia 05 de junho, a casa áfrica faz uma sessão comentada do vídeo “abdias nascimento 90 anos memória viva”, com a presença do escritor e etnólogo jamaicano-cubano carlos moore, benjamin abras falando poemas de abdias e o embaixador do senegal fodé seck.
no teatro joão ceschiatti, palácio das artes (av. afonso pena, 1537 – centro).
para mais informações: bebop comunicação & cultura
Notas para uma genealogia
Nunca fui muito chegado a árvores genealógicas. Trabalhei vários anos em livrarias. Do lado de trás do balcão, ouvi muita gente maluca dizer que estava recompondo a lista de seus ancestrais. Lembro-me de uma senhora que procurava um livro de heráldica. Ela queria ter um modelo do brasão da família, que tinha suas orígens alem-mar e que teria chegado dos portos portugueses em grandes caravelas. Não me lembro bem o sobrenome, deve ser algo como “silva” ou “andrade”, sei lá. Eu olhava a tudo com um suspeitoso interesse e ela me perguntou: “você já fez a sua árvore genealógica?” ao que respondi: “não há muito o que procurar”. Depois de saber que o meu sobrenome era Gonçalves ela me disse a queima-roupa: “você certamente é de origem espanhola, com esses traços árabes… procure saber”.
Sempre me pareceu, então, que as pessoas interessadas nesse tipo de genealogia estavam mesmo é procurando um jeito de levantar a auto-estima, adivinhando supostos ancestrais ilustres que corroborassem a existência moral dos que aqui estão. E, é claro, para que isso acontecesse, o antepassado deveria forçosamente vir da europa ou quando muito um árabe ou um judeu. Indígenas não. Nem africanos, que só servem pra sujar o sangue da família. Ou seja: o que eu iria procurar?
Mas recentemente, motivado por minhas leituras em torno a questões étnico-raciais, resolvi escarafunchar. O objetivo é tentar chegar o mais perto possível do que teria sido a minha origem biológica. Filhos de quais povos teriam se unido para chegar até isso que sou? Comecei a pesquisa de modo simples: entrevistando meus pais. Em seguida, pretendo entrevistar outras pessoas da família e depois ir às cidades onde nasceram alguns dos nossos antepassados em busca de documentos, matrículas, registros de nascimentos e de aquisição de escravos, notícias de imprensa, coisas que apontem para alguma informação mais clara.
Já tenho alguns apontamentos: meu avô paterno, Vitalino Francelino Gonçalves, nasceu em Santo Antônio do Monte, Minas Gerais. Reza a lenda que era neto de índios. Mas não sabemos de qual etnia eram e nem se a informação é verdadeira. De qualquer forma, flagro o velho lá em Abaeté (cidade natal de meu pai) sobrevivendo, em meio a diversas atividades do campo, de seu artesanato em cambaúba (chapéus, peneiras) e de seus pilões talhados em toros de madeira – objetos necessários à vida cotidiana naquela época e lugar, mas que não eram fabricados por qualqueres. O sobrenome, Gonçalves, meu avô herdara de seu pai, Egydio Francelino Gonçalves, mas não de seu avô, que se chamava Manoel Domingos Francelino. Fica então a pergunta: de onde teria saído o Gonçalves? Não se sabe. Aquela heráldica senhora que me desculpe, mas não foi da Espanha. E a julgar que meu tataratataravô era de fato indígena, nem mesmo o Francelino parece ter nascido com a família.
De acordo com a certidão de casamento, meu avô era filho legítimo, mas minha avó, Jacinta Maria de Jesus, era uma filha “natural” (ou seja, sem pai) de Josefa Maria de Jesus – uma negra nascida uns dois ou três anos depois da lei do ventre livre e crescida na fazenda dos Melosos, município de Abaeté. Minha avó, aliás, também nasceu ali, No ano de 1905. Seu pai, um branco, chamava-se Lino Leite. Meu pai, que conheceu dona Josefa quando ela já estava no final da vida, certa vez perguntou-lhe em que ano ela tinha nascido e ela disse que não sabia, pois tinha perdido o batistério. Porém respondeu: “tenho 76 anos”. estava em 1950. Meu pai conta também que ela ajudava a mãe em seus trabalhos enquanto esta era ainda escrava.
No lado materno também tenho algumas informações ainda bem vagas: tanto meu avô quanto minha avó eram filhos de mãe negra e pai branco. Os pais de meu avô não eram casados. Os de minha avó, eram. Minha avó era da família Carmo, vinda da cidade de Moeda. Mas os bisavôs, os homens daquela geração não tiveram um papel muito marcante na construção da unidade familiar. O papel deles parece ter sido o de reprodutores. Meu avô materno faleceu no ano em que nasci. Os velhos, pais dos meus avós, não tomaram conhecimento de que de seus cromossomos nascia um tipo de família com fortes características africanas e indígenas, com a convivência constante de pais, tios, primos, irmãos, cunhados e cunhadas. Famílias matriarcais. Matriarcas que eles fizeram questão de esquecer. E nisso eles foram muito bem correspondidos, pois sabe-se muito pouco a respeito deles.
São esses os primeiros apontamentos para a minha genealogia. Nada de herói fundador. Nada de mito familiar. No fundo, sou um descendente de pessoas de parcas finanças, e muitos trabalhos. Como a maioria dos brasileiros. Tristealegres, provavelmente. Nascidos no país da utopia. O paraíso perdido entre as montanhas.
Mas como eu disse, o trabalho está só no começo. Vejamos até onde consigo chegar. Vejamos de qual povo banto sou herdeiro. Será mesmo banto? Será que descobrirei qual língua meus antepassados canibais falavam?
Enquanto não tenho a resposta, fico com a imagem da velha Josefa, uma senhora com um semblante bem velho, alta e gorda, uma saia comprida e rodada, badalando feito um sino aos movimentos de subida e descida de quem chega andando de muito longe. Josefa aparece no horizonte de uma antiga roça com casa de pau-a-pique enquanto um bando de crianças gritam alegres depois de avistá-la: “evem Vó Izefa!”
escritoras suicidas nº. 26
acaba de se publicado um contito cruel da ana ramiro [aqui] entre as autoras convidadas das escritoras suicidas. vá lá ler. e aproveite para conhecer as escritoras. e conheça rápido. pois são suicidas.
revista confraria nº20
na onda das belas revistas literárias, está no ar a revista confraria nº20. tem texto de muita gente boa lá. tem mallarmé. tem roberto juarroz. tem claudia roquete-pinto. tem paloma vidal. pedro süsskind. e tem uma divertida concepção poético-sonora, o poema repito, ecolalia do marcelo sahea. nem é bom falar. o melhor é ir ver. e ouvir.
sociedades do espetáculo
o livro “la societé du spectacle” teve sua primeira edição em 1967, o ano em que a terra estava em transe. nos anos seguintes, guy debord, seu autor, pôde confirmar muitas das coisas que ali estavam profetizadas (fico imaginando o que ele diria hoje, depois do espetáculo do world trade center, das campanhas eleitorais de países como o brasil e os estados unidos ou da espetacularização do assassinato de crianças, transformando os criminosos em verdadeiros astros pop às avessas).
em 1988, pensando nisso, ele escreveu os “comentários à sociedade do espetáculo”. foi por essa época que saiu na itália o livro “la societá dello spetacolo”, com posfácio entitulado “Glosas marginais aos “Comentários sobre a sociedade do espetáculo”” de giorgio agamben. texto inédito em livro no brasil. agora traduzido por joão gabriel e disponível no blogue dele: l’autre nom.
no texto, o filósofo italiano comenta coisas como o acontecimento de timisoara, à época do fim do regime comunista na romênia (“pela primeira vez na história da humanidade, cadáveres recentemente enterrados ou alinhados sobre as mesas dos necrotérios foram exumados rapidamente e torturados para simular diante das câmeras o genocídio que deveria legitimar o novo regime”.) e a legitimação de um estado espetacular (ou democracia-espetacular). deixo com vocês uma palhinha:
pela primeira vez na história do século, as duas grandes potências mundiais são dirigidas por duas emanações dos serviços secretos: bush (antigo chefe da CIA) e gorbatchov (o homem de andropov); e mais eles concentram o poder em suas mãos, mais isto é saudado, pelo novo ciclo do espetáculo, como uma vitória da democracia. a despeito das aparências, a organização democrática espetacular mundial que se desenha assim corre o risco de ser, na realidade, a pior tirania que jamais foi conhecida na história da humanidade, por relação a qual toda resistência e oposição se tornarão mais difíceis, visto que assim ela terá por tarefa administrar a sobrevivência da humanidade para um mundo habitável pelo homem.
zunái – um caleidoscópio de maravilhas
ESCRITO NO MEU SONHO POR W. C. WILLIAMS
“Já que você
carrega
uma
conhecida
verdade
Mais
conhecida como
Desejo
Pra quê
vesti-la de
adornos
ou torcê-la até
ficar
sob medida
para ser
entendida?
Arrisque-se –
Nariz
olhos orelhas
língua
sexo e
cérebro
atirados ao
público
Confie
no seu
próprio
taco
Escute
você mesmo
Fale com
você mesmo
e outros
o farão
felizes,
aliviados
de um fardo –
seu próprio
pensar
e pesar.
O que era
Desejo
terá ainda
mais brilho.”
Allen Ginsberg
23 de Novembro, 1984
quem traduziu foi reuben da cunha rocha. essa belíssima tradução do poema “WRITTEN IN MY DREAM BY W. C. WILLIAMS” do Ginsberg, está aqui para ilustrar, exemplificar e anunciar o novo número da revista zunái, que está “em cartaz” no endereço: www.revistazunai.com.br. o novo número está lindo, com uma primeira página amarelinha kandinskyana super-convidativa. além de uma coleção do Ginsberg, tem também poemas de odete semedo, ademir demarchi, august stramm, os haicais da japonesa chiyo-ni (traduzidos por alice ruiz), césar vallejo (em forma transdobrante, tradução de claudio daniel, videotradução de antônio moura e sonorização de maria alzira brum de lemos).
o caleidoscópio de maravilhas não acaba por aí. na sessão de contos você encontra, entre outros, o magnífico baiano joão filho. na galeria, se você for curioso, vai ficar instigado para ver de perto o trabalho de marcelo silveira, com suas instalações-esculturas-objetos. e tem mais. ricardo aleixo, sylvio back, ademir assunção, ricardo corona, rodrigo garcia lopes, frederico barbosa com poemas e delírios apontados para o cinema. ensaios sobre haroldo de campos, roberto piva. a lista não para.
com um time desses, você ainda vai duvidar? então vá lá.