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Sobre Leo Gonçalves

Leo Gonçalves é poeta, tradutor, curioso de teatro, música, cinema, política, culinária, antropologia, antropofagia, etnopoesia e etnologia, vida, educação, artes plásticas etc.

rodrigo vai embora com os bailarinos

rodrigo

A morte de Rodrigo de Souza Leão, hoje pela manhã me deixou pasmo. Durante esta semana, o falecimento dos bailarinos mais badalados do planeta, Michael Jackson e Pina Bausch (cada um no seu pas de bourré) me deixou surpreso. Mas saber que um jovem de 43 anos, no auge da sua cri/atividade, com seu “Todos os cachorros são azuis” recebendo prêmios e críticas nos quatro cantos da língua, que se correspondia com deus e o Brasil afora via email, boa gente em sua simplicidade ativa, poeta bom assim na prosa como no verso, saber que o Rodrigo intenso como um Leão se foi tão cedo dói na carne.

Rodrigo não dará Ibope suficiente para que a imprensa noticie sua despedida. Mas você pode ler os comentários de Cássio Amaral, Claudio Daniel, Ademir Assunção, Rodrigo Garcia Lopes, Marcelo Sahea , Virna Teixeira, entre os muitos que fizeram sua homenagem a ele pela bloguesfera afora.

Pulso
(Rodrigo de Souza Leão)

O pulso pulou
Pra fora do bolso

A veia fétida
Da erupção

Elevou-me
Ao Éden

Que no mármore
Fique

Fincado
Um desepitáfio

o poro no bloomsday

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1. Bloomsday é o dia em que leitores do mundo inteiro comemoram a passagem de James Joyce pelo planeta. Seu livro Ulysses é uma epopéia que se passa nas 24 horas do 16 de junho 1904 na vida de Leopold Bloom. Na Irlanda o dia é inclusive feriado. Quem procurar no google vai encontrar Bloomsdays por todo o planeta. Em Belo Horizonte, desde 1990, a tradição de se comemorar este dia está sob os cuidados do Grupo Oficcina Multimedia. E eles sempre inventam algo divertido, irreverente.

2. Este ano, uma parte das comemorações foi na Praça 7, com banca de cartas de amor e a intervenção do Poro. Acima, deixo com vocês algumas das fotos da proposição que encheu o céu da cidade cinza de cores e asas. Espero escrever algo mais em breve.

aimé césaire: 96 anos

hoje, dia 25 de junho de 2009, o poeta aimé césaire completaria seus 96 anos, não fosse os orixás o requisitarem para um bate papo no orum no meio de abril do ano passado. para celebrar, um poema de autoria dele sobre a bahia. quem quiser ler o original, favor clicar aqui.

Carta da Bahia de Todos os Santos

Bahii-a

Como que um gole arretado de cachaça na garganta de Exu e a palavra delirou em mim um relincho de ilhas verdes mulheres nadadoras salpicadas entre a imodéstia das frutas e um baque de papagaios

Bahii-a

a curva de um colar caído rumo ao seio aberto das águas bobinado no oco seus pentelhos de ressaca

Bahii-a

deriva de continentes, um ir-se de terra, um bocejo geológico na hora fastuosa da ancoragem, o cochilo à âncora e mal domado no lugar

Bahii-a

de nostalgia, de gengibre e de pimenta, Bahia das filhas de santo, das mulheres de Deus, com pele de camarão cor-de-rosa, com pele de vatapá também

Ah! Bahii-a!

Bahia de asas! de conivências! de poderes! Campo Grande para as grandes manobras do insólito! De todas as comunicações com o desconhecido, Central e Aduaneira.

De fato, de Ogum ou de são Jorge, não se sabe, nuvens solenes cruzaram a espada, intercambiaram pérolas, caniços, búzios rosados, búzios cor-de-malva, aranhas encrustadas, siris vorazes, lagartos raros

e a palavra termina no esfolamento clandestino dos mais altos senhores do céu

Ah! Bahia!

Esse foi então o entorpecimento de incenso azulejado de ouro numa pesada sesta na qual se fundiam juntos igrejas azulejas, marejos de além-morro de tambores, foguetes moles de deuses culminados, de onde a manhã se ergueu, dengosíssima, graves meninas cor de jacarandá, penteando lentamente seus cabelos de alga.

(Tradução de Leo Gonçalves)

Do livro ferrements et autres poèmes de Aimé Césaire

Oxumenina – Letra e música

Algumas pessoas que passam por aqui já estão sabendo: minhas relações com a música têm dado novas dimensões à minha criatividade (esta é também uma das razões de um certo sumiço momentâneo). A participação na performance CorpoTambor, do Benjamin Abras me trouxe de volta o violão. Em seguida, algumas composições furtivas. Como por exemplo a que fiz para o poema Oxumenina, do meu amigo poeta-jornalista-antropólogo-músico George Cardoso. Uma madrugada de insônia, rodeado de arpejos, escalas e partituras, resultou na música cuja letra eu deixarei aqui, só para começar. Aguardem novas novidades quem gostar de.

Oxumenina
(Leo Gonçalves – George Cardoso)

Oxumenina
Dança na minha cabeça
Dança na minha saudade
Batá batuca pra tua beleza
Batá batuca pra tua beleza

Ô flor nupê
Põe teus sorrisos nos meus
Nas águas dos olhos meus
Ayabá do meu viver
Ayabá do meu viver

Oxumenina
Canto pra ser teu obá
Sonho é poder te tocar
Oraieie ô teu prazer
Oraieie ô teu prazer

MIP2

Em 2009 o CEIA – Centro de Experimentação e Informação de Arte realizará a segunda edição da MIP. Nesta edição, o evento propõe leituras transversais entre a performance e outras linguagens artísticas como a dança, o teatro e a música com a proposta de não privilegiar apenas o olhar determinado pelas artes plásticas, mas de dar ênfase à diluição das fronteiras entre as várias linguagens artísticas. A programação inclui workshops, palestras e apresentações, com a participação de mais de 30 artistas locais, nacionais e internacionais.

MIP2 - Movimentação Internacional de Performance

2009 – Belo Horizonte, Brasil
de 20 a 31 de julho: workshops
de 03 a 09 de agosto: semana de apresentações, vídeo-performances e ciclo de palestras

AS INSCRIÇÕES PARA ESPAÇO ABERTO E WORKSHOPS FORAM PRORROGADAS: de 11 de maio a 15 de junho

Saiba mais nos endereços:

www.ceia.art.br
www.virgulaimagem.redezero.org

benjamin abras em dose dupla

hoje e amanhã, participo de duas performances de benjamin abras.

na primeira, que acontece hoje, 28 de maio, a partir das 20h na livraria usina das letras, no palácio das artes. falarei um dos poemas do livro falanges, que será lançado em meio às celebrações da semana da abolição.

na outra, a surpresa: os que forem amanhã, dia 29 de maio a partir das 20h ao tambor mineiro (rua ituiutaba, 339 – prado) serão os primeiros a me ver desempoeirar o violão na performance corpo tambor, onde benjamin emprega dança afro em meio a sonoridades inusitadas. tocarei ao lado de mateus valadares a peça musical que também se chama corpo tambor, de nossa autoria.

saiba mais no blogue do benja: www.benjaminabras.blogspot.com
corpo tambor - performance de benjamin abras no tambor mineiro

paul valéry para distrair

valery

pessoas cultas adoram citar paul valéry (aquele cara do mallarmé fã clube). pouca gente sabe que como poeta tinha hora que ele era  mesmo um pé no saco (pronto, falei!). por outro lado, era quase sempre um frasista de primeira (e é o que os “cultos” costumam citar: suas frases). certamente ele devia ser duro na queda porque tinha sempre uma tirada sutil, um impropério apropriado, um aforismo ou desaforismo para cada ocasião. comparável a ele só oscar wilde. traduzi algumas aqui, só pra distrair, enquanto não cessam os ventos de maio.

“o homem de negócios é um híbrido de bailarino com máquina de calcular”.

“é impossível compreender e punir ao mesmo tempo”.

“a mentira e a credulidade se acasalam e geram a opinião”.

“um homem competente é um homem que se engana de acordo com as regras”.

“creia, ou eu te mato pra sempre”.

“o poema – essa hesitação prolongada entre o som e o sentido”.

“os livros têm os mesmos inimigos do homem: o fogo, a umidade, os bichos, o tempo e seu próprio conteúdo”.

“o que há de mais profundo no homem é a pele”.