USE O ASSENTO PARA FLUTUAR

Capa Use o assento para flutuar

Já está disponível para venda o livro Use o assento para flutuar, que acaba de ganhar sua segunda edição. O livro sai pela Editora Crisálida e já pode adquirido nas livrarias ou pelo site da editora: http://crisalida.com.br/livros/NE5493/9788587961884/use-o-assento-para-flutuar.html

Livro: Use o assento para flutuar (2ª edição)

Autor: Leo Gonçalves

Editora: Crisálida

Gênero: Poesia

Formato: 15 x 21

Número de Páginas: 136

ISBN: 978-85-87961-88-4

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Capa e design: Leo Gonçalves

Editor: Oséias Silas Ferraz

Fotos: Juliana Corradini

O livro contém traduções de: Dan Hanrahan, Fernando Reyes, Patrick Quillier, Anízio Vianna e Gabriela Carrión

Clique aqui para baixar o Release de Use o assento para flutuar

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AEROPLANOS

planos para o próximo ano
aeroplanos
se a cabine despressurizar
carabinas como estas apontarão para a
sua cara
não há saídas de emergência
fasten seat belt
use o assento para flutuar
para o próximo ano
aeroplanos

*

nossos beijos costurados sobre a camiseta
tão inquietos os beijinhos
que caminham rebeldes pela pele
e se agarram como manchas no pescoço

eu brinco a beça com a sua cabeça
tem piolhos tem caprichos muitos grilos
pelos loiros coloridos
eu colo no seu colo a minha boca
e você se perde

porque agora tem um mar de cheiros
o amargo mar de onde arde o nardo
e cresce entre as pernas da menina
com meu ramo mirrado e uma rosa uma rosa
uma rosa sob a minha mira

sei os beijos na palma da mão
e palmas para o movimento gostoso
da palmeira no vento e sua palma
magrinha como o visgo do dendê

os beijos sobre os beijos pela pele
derramam bálsamos a cântaros
e perfumam qual o cedro o seu ciúme
a casa não tem varanda a que se preste
a sacanagem santa desses nossos beijos

que correm cosidos pela camiseta
tão inquietos os beijinhos
passeando rebeldes pela pele
te adornando no pescoço nas orelhas

*

LÍNGUA DE ARUANDA

minha avó que era filha da filha
minha avó que era avó da avó
tatibitateava quando menina
uma cantiga perdida
no fundo do cafundó
cantiga que eu mesmo
ainda canto de cor
sem saber o que significa
sem certeza se canto certo
sei é que quando canto
meu corpo vibra
meu sangue estua
e não há mau olhado que sobreviva
a essa cantiga antiga
que meus ancestrais gravaram no eco
da voz dos meus avós

*

Orelha:

Uma lírica de fios tensos, uns; desencapados, outros; partidos e irremediavelmente soltos, alguns mais – a que nos oferece Leo Gonçalves neste livro em que a ironia se constitui, já desde o título, como um elemento estruturante e, a comprovar a pertinência de seu uso, desestruturador. Que não se espere encontrar um poeta reverente a qualquer linhagem das inúmeras que se entrechocam no populoso e confuso ambiente da poesia contemporânea.

O poeta, neste livro de muitas vozes – interrompidas –, propõe-se como aquele um que percebe, mal iniciada sua fala, a intromissão, nela, de (cito as palavras iniciais de Michel Foucault em A ordem do discurso) “uma voz sem nome”, a qual, trazendo-o de volta para “além de todo começo possível”, não lhe deixa outra opção que a de figurar como “uma estreita lacuna, o ponto de seu desaparecimento possível”.

Hábil artífice da própria desaparição como “autor”, Leo Gonçalves como que faz da página um espaço análogo ao corpo – que ele, também um performador de muitos recursos, toma como espaço –, permeável à movência das “coisas do mundo, minha nega (Paulinho da Viola)” e à circularidade do tempo, como bem deve fazer quem diz ter partes com Exu, o trickster da tradição iorubá: “eu canto o corpo orgânico com ou sem órgãos/ eu canto as palavras velhas/ não digo nada de novo/ minhas palavras são mais velhas que o fogo/ a língua que se falava antes de babel/ o que já foi dito um milhão de vezes por todos”.

Uma “estreita lacuna” por onde passa, não tudo, mas: o que passa. Alguém parece ter entendido o novo papel do poeta, neste tempo em que “nossa poesia”, John Cage dixit, “é a / consciência/ de que/ não possuímos/ nada/ .”

Ricardo Aleixo

01ago12

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Prefácio [em espanhol]:

*Texto de Juan Gelman

¿Cómo hablar de este libro que “construye edificios para que nadie suba”? ¿Y cómo no subir a este edificio? El amor, la poesía, la imaginación, el humor, son sus dueños y usted, lector, también. El humanismo de estos poemas habla con el mundo sin concesiones y erra por sus entrañas para saber qué son, por qué nos dan dolor y hermosura al mismo tiempo, por qué despiertan la palabra de Leo Gonçalves.

Es una palabra que canta “aunque no haya belleza suficiente” y que el autor alimenta con el vientre de la amada, su pubis que atrae la respiración del “Cantar de los cantares” del fondo de los siglos a pesar de la electrónica. ¿Somos humanidad o no? Estos poemas dicen con razón que, para bien o mal, somos una continuidad y desde ese lugar conversan con la Historia.

Lo hacen con gracia, con sorpresas lingüísticas que rozan lo invisible, porque la realidad poética no es sólo lo que hay, es lo que hubo, lo que habrá, y la poesía todo lo reúne en materias del tiempo. En “Flutuar”, el presente está lleno de pasado para saber quiénes somos.

La imagen nace de la distancia con las cosas, pero “el amor es todo aquello que se toca”, afirma Leo. Aún así, sabe que el amor y la poesía son intocables, sólo se pueden oír sus cadencias llenas de sobresaltos. La repetición en estos poemas son golpes a la puerta de la palabra para que diga lo que sabe. También golpea al lector para que sepa lo que ignora de sí mismo.

Hay cosas extraordinarias que Leo Gonçalves da: el ritmo de sus versos, repiques del candombe, un poema del mar como si lo hubiera escrito Yemanyá. Algunos poemas se podrían bailar sin música, sólo con la de la palabra, un reconocimiento de todas las vidas y las muertes que la hicieron y están en su escritura. Un mérito mayor.

Digresión: la segunda parte del libro se podría calificar de “poesía política” con el desdén que la expresión entraña. Se nombra a W, Bush, Truman, Nixon y otros autores de la desdicha mundial con un despliegue de riqueza poética que destrona adjetivos. La poesía es palabra calcinada y por eso puede hablar de todo. La cuestión es cómo. Estos poemas de Leo Goncalves son poesía, como los poemas que Alceo de Mitilene escribió hace 27 siglos: No entregar nunca a nuestros compañeros/o bien morir y envueltos en la tierra/descansar, derribados por aquéllos/que mandaban entonces o matarlos/y liberar al pueblo de sus males.

*

Posfácio à primeira edição:

*Marcelo Ariel

A primeira coisa que me chamou a atenção nestes poemas foi a iro- nia utilizada não como uma ilusão de poder, mas como um comen- tário sobre a proximidade entre a vida cotidiana e o lugar da tragé- dia no mundo. Em um poema emblemático sobre o ato fundador do século vinte e um (o choque dos aviões contra o World Trade Center em Nova York) Leo Gonçalves opera uma revisitação transversal ao lugar onde a tragédia se evidencia: o sistema de comunicação em massa. Desse modo, se apropria da construção de frases síntese da linguagem publicitária, tensiona essa linguagem com procedimentos inventados no concretismo, no surrealismo, no dadaísmo etc, como se operasse uma mestiçagem entre possíveis poéticas anunciadoras de trágicas finitudes.

Existe um humor sutil em Use o assento para flutuar. Em alguns momentos me lembrei de uma única foto onde Paul Celan aparece rindo, talvez dos próprios limites da poesia.

A segunda coisa que destaco no livro é que Leo Gonçalves trabalha com uma musicalidade interiorizada nas frases e no parentesco ou similitude entre as palavras. Eis aqui um poeta para quem a palavra tem um sentido ético, de tomada de uma posição diante do caos, que não pergunta se o caos nos aceita e ao invés disso questiona nossa postura diante dos intrincamentos do real dentro desse caos, seja esse real o terror sedutor da propaganda ou a perplexidade diante da impossível subida na Babel dos espaços cada vez mais fantasmagori- zados pela banalização do horror e pela insuficiência da linguagem em face do real.

Use o assento para flutuar me parece um projeto de ambientação do ritmo e da poesia dentro de um questionamento dos sistemas de manutenção de uma simulação da vida, questionamento godardia- no porque o poeta inclui a si mesmo como sujeito dessa simulação. Leo se porta como um rapper de silêncios incômodos orquestrados pela oportunidade do acontecimento do poema. Existe um não-lugar que converte o mundo em uma algaravia de imagens e símbolos es- vaziados que a poesia parece reordenar horizontalmente e não mais verticalmente e este livro é um dos primeiros testemunhos desta nova ordem de coisas. O poeta tenta demarcar aqui um novo terri- tório para o poema, território esse já ocupado pelo cinema e pelo rap.

Uma outra coisa deve ser dita: a tentativa de aproximar o poema de um comentário irônico sobre o real é o motor de diversos tratados ético-poéticos desde Luciano em seu Dialogo dos mortos, passan- do por Joan Brossa e seus objetos subjetivos e chegando aos pouco conhecidos poemas de Luis Buñuel. Creio que é nessa dimensão de fundação de uma cidade através de seus escombros, sem abrir mão do humor no sentido mais profundo da palavra (como em Pirandello), que podemos situar este livro. Podemos flutuar no abismo, é o que parece anunciar o título do livro.

Há mais: em “Língua de Aruanda”, o poeta dialoga com a ances- tralidade, fonte de singularidades diversas que entram em estado de complementariedade, faz referências que vão de Senghor a Coltrane, passando por uma bela evocação, no poema “Saudação ao elefante”, à África e também ao esquecido Amilcar, personagem histórico que quase venceu Julio Cesar, o que poderia ter sido um devir civiliza- tório de alteridades inimagináveis para a historia.

Use o assento para flutuar se encerra com uma seção lírica onde a palavra e seus poderes de nomeação e significância se esgotam di- ante de um sentimento pleno de furores abstratos, sentimento, esse, fundador de um não-lugar que dissolve todos os lugares dentro de uma possibilidade de transcendência no outro.

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Outras notícias:

Na revista Modo de Usar e Co.

No portal Cronópios

No site Musa Rara

Selmo Vasconcellos entrevista Leo Gonçalves

Matéria escrita por Carlos Ávila no jornal Hoje em Dia (15 de setembro de 2012)

Texto de Tanussi Cardoso escrito por ocasião do lançamento do livro no Rio de Janeiro

Texto de Ronald Augusto publicado no blog Poesia-Pau

Texto de Ronald Augusto publicado na sua coluna do Jornal Sul 21
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(Última atualização: 20 de março de 2018)

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