por ocasião do lançamento do livro “A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros”, o poeta e antropólogo baiano antônio risério concedeu, no último dia 05, uma entrevista a joão pombo barile, do jornal mineiro O Tempo. sério pesquisador da cultura brasileira, risério comenta alguns dos assuntos mais polêmicos na atualidade. chamo a atenção para o fato de que ele propõe uma visão muito mais lúcida e com visão ampla dos fatos do que a maioria do que anda sendo falado por aí sobre assuntos como: racismo, cotas para negros na universidade, a situação de negro no brasil e um tema muito pouco falado (pois por aqui ainda vigora nas cabeças o maniqueísmo negro x branco), mas que a meu ver é a base da questão social brasileira: a questão da mestiçagem. vale a pena dar uma olhada. deixo apenas uma palhinha e os links:
João Barile: No seu livro fica claro que, para o senhor, a mestiçagem é um processo biológico e cultural e não pode servir como um mecanismo de redução das distâncias sociais. Mas aí fico pensando naquela letra do Caetano Veloso e do Gilberto Gil, “Haiti” (“E são pretos/ e são quase pretos de tão pobres…”). Se a pobreza entre nós não tem cor, também não dá para dizer que os negros não sejam maioria…
Antônio Risério: O que eu digo é que mestiçagem não é sinônimo de igualdade, nem de harmonia social. Não exclui o preconceito, o conflito. E o Brasil é a melhor prova disso. É claro que boa parte dos negromestiços brasileiros vive em situação infra-humana, sem acesso aos serviços públicos mais elementares, ganhando pouco, morando e comendo mal, com baixa ou nenhuma escolaridade. Mas não só eles. Nem todos os pretos são pobres e nem todos os pobres são pretos. Eu não digo, em momento algum, que a pobreza no Brasil não tem cor. É o contrário. Ela tem muitas cores. Basta entrar numa favela paulista para constatar isso. Na Amazônia, os negro-mestiços não constituem a maioria dos pobres. Esta maioria é cabocla, de ascendência indígena. Há muitos brancos pobres no Rio Grande do Sul, no Paraná, em Santa Catarina. Por outro lado, cidades como São Paulo e Salvador já tiveram prefeitos pretos, a exemplo de Celso Pitta e Edvaldo Brito. E hoje existe uma classe média negra no Brasil, estimada em mais de 10 milhões de pessoas, segundo a Associação Nacional de Empresários Afro-Brasileiros. É para esses mulatos mais escuros que existem coisas como a revista “Raça” e todo um elenco de produtos cosméticos e vestuais. É certo que não é suficiente. Mas a promoção da inclusão social no Brasil não deve se pautar por linhas étnicas rígidas. Nossa pobreza não é somente negra. “Haiti” é uma composição que fala de Salvador, cidade marcadamente negro-mestiça. Mas não faria sentido algum se a sua referência fosse Belém ou Manaus.
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