Aimé Césaire

Introdução à poesia, ao pensamento e à ação política

Aimé Césaire é lembrado em todo o mundo como o inventor da palavra Negritude. Palavra que se tornou a escolhida para nomear o movimento literário encabeçado por jovens estudantes negros na Paris dos anos 1930. O diálogo com os poetas Léopold Sédar Senghor e Léon Gontran Damas, bem como as ações das precursoras Paulette e Jeanne Nardal, fez desse movimento um verdadeiro marco nas literaturas de países onde a população negra é significativa. No entanto, é possível se falar de Aimé Césaire para muito além desse label, desta etiqueta. Um homem que atravessou o século XX com um constante interesse pela precisão das palavras, certamente terá encontrado meios de se atualizar e se metamorfosear. 

Assim, sua obra está repleta de interdisciplinaridade, atuando como historiador, crítico da cultura, político atuante na Assemblée Nationale Française e por tudo isso, uma fonte de inspiração fundamental para autores como Frantz Fanon, Nelson Mandela, Wole Soyinka, Achille Mbembe e muitos outros. 

Este é um curso sobre a obra, os conceitos, as invenções poéticas e a trajetória de Aimé Césaire. Em quatro encontros, cada um deles abordando uma de suas diferentes linhas temáticas. Serão oito horas distribuídas ao longo de 2 meses. Para cada aula, serão indicados livros em português e textos exclusivos. Os participantes poderão se inscrever em aulas avulsas ou no pacote completo contendo todo o conteúdo proposto, a depender da disponibilidade de vagas.

Apresentação

Uma introdução à obra de um dos mais interessantes e instigantes personagens do século XX. Inventor da Negritude, em parceria com seus amigos Léopold Sédar Senghor e Léon Gontran Damas, ele foi um radical das palavras. Adepto de ferramentas analíticas marxistas, buscou definir com precisão os conceitos que defendia, assim como aqueles contra os quais se levantava. 

As chaves para o entendimento de sua obra estão em seus poemas. Se sua atividade política teve grande importância para o mundo colonial, e em especial seu “pays natal”, a Martinica, sua poesia foi um frequente de estudos e trabalhos críticos. Assim, não são poucos os teóricos que olham para o Cahier d’un retour au pays natal (traduzido no Brasil como Diário de um retorno ao país natal) sua obra mais significativa. Não sem razão também, é o fato de este livro-poema ter um importante significado para a formação dos mais diversos povos da África e da diáspora.

Seu livro Discurso sobre o colonialismo, igualmente, possui um papel importante nas diversas lutas pela emancipação no período conhecido como “decolonial”, as décadas de 1950, 1960 e 1970, quando o mundo assistiu a uma vertiginosa série de independências no continente africano. Ao discutir os diversos aspectos problemáticos do sistema colonial, Césaire falava em tom de cumplicidade com as nações dominadas de todos os continentes onde o imperialismo europeu colocou seus pés. 

Como político, Césaire é lembrado por ser o autor da lei que definiu o destino dos territórios ultramar ligados à França: Martinica, Guadeloupe, Reunião, Mayotte e Guiana Francesa. Enquanto países como o Senegal e o Vietnã (antiga Indochina) optaram pela independência, esses decidiram pela “departamentalização” de suas regiões, o que significava dar a elas um status de igualdade em relação às outras regiões da França.

Césaire também é lembrado por ter sido o prefeito da cidade de Fort-de-France, capital da Martinica, ao longo de cinquenta e seis anos. A população da cidade o via com afeto e o chamava de Papa Césaire. Ele é personagem dos mais diversos romances de autores martinicanos. 

Entender Césaire no Brasil hoje é um desafio que se impõe, com cada vez maior urgência. Entre nós tem se desenvolvido cada vez mais os estudos coloniais e decoloniais, e sua obra possui elementos chave para se elaborar mais o tema. Não apenas. É uma obra que falará ao fundo dos corações que lutam por mais igualdade, mais justiça e pelo fim do racismo, por exemplo. Uma obra que fala não apenas do ponto de vista de um lugar, mas de um lugar novo, da construção de um povo novo, um lugar de destino. 

Programa

1. Retorno ao país natal 

Primeira obra de Aimé Césaire, o livro-poema Cahier d’un retour au pays natal já traz um pouco das grandes questões que atravessarão seu pensamento. Ali já estão a questão do colonialismo, as rebeldias diante das imposições do sistema colonial, o chamado ao encontro do povo negro e a reconciliação com sua terra natal. Também é um poema fundamental, que serviu de alimento e formação para os povos negros dos dois lados do Atlântico. 

Bibliografia: 

Diário de um retorno ao país natal (Tradução de Lilian Pestre de Almeida). São Paulo: Edusp, 2011.

2. Discursos sobre o colonialismo

Césaire foi um dos primeiros intelectuais francófonos a se posicionar sem desviar os olhos em relação ao problema colonial. Em seu livro sobre Toussaint Louverture, ele elabora sobre a importância da questão da dominação. O próprio discurso sobre o colonialismo, talvez o seu escrito mais famoso, atua como uma reação profunda e crítica diante desse problema. 

Bibliografia: 

Textos traduzidos e disponibilizados pelo ministrante especialmente para o curso.

3. Negro sou, negro serei

No amanhecer do pós-guerra, o ambiente é de reconstrução. O que será feito das antigas colônias do “Império Francês”? Como a França iria lidar com os cada vez mais frequentes levantes que começavam a pipocar nas diferentes localidades onde havia domínio? É nesse ambiente que a esquerda martinicana procura em Aimé Césaire um representante à altura. Sua ação política se fez em diversos níveis: formal, sendo eleito pelo povo da ilha; ideológico, atuando em seus discursos diante do povo; cultural, buscando unir a linguagem poética às inquietudes políticas — pela via do teatro. Sua ação política talvez seja o melhor meio de unir os diferentes lados de sua longa travessia do século: a política, a poesia e a vida. 

Bibliografia: Textos traduzidos e disponibilizados pelo ministrante especialmente para o curso.

4. Uma lírica vulcânica

A poesia de Césaire é tida como misteriosa. Diferente de seus discursos lacerantes na esfera política, sua lírica é alimentada pelos vocabulários do mundo, pelo nome das coisas e dos seres. Atravessada por angústias causticantes, ela é pulsante — nela parece latejar as forças de um existencialismo que esteve nas origens de sua produção criativa. Obscura e, por vezes, hermética, trata-se de uma lírica solar, marcada pelos ritmos dos atabaques ancestrais e pelas aberturas de suas facas-meio-dia, seu laminário particular, sua revolução rebelde e os incêndios de sua raiva vulcânica. 

Bibliografia:

Textos traduzidos e disponibilizados pelo ministrante especialmente para o curso.

Investimento


R$ 320,00 todas as aulas
R$ 120,00 aula avulsa

Formas de pagamento:
pix, cartão de crédito, paypal, boleto bancário, transferência.

Link para inscrição

Para inscrições, acesse: https://forms.gle/5Yffd9aQzVXGS1to7

Quem é Leo Gonçalves

Leo Gonçalves (Belo Horizonte, 1975) é poeta e tradutor. Especialista da Negritude, tendo traduzido alguns dos livros de Aimé Césaire que estarão disponíveis em breve nas livrarias. Autor de Use o assento para flutuar (Crisálida, 2018) e das infimidades (in vento, 2004). Aparece em antologias como Antologia poética #4: Sob um sol escuro também se escreve, organizada por Edimilson de Almeida Pereira (Revista Cult, 2021) Poesia hoje: negra, organizada por Ricardo Aleixo (p-o-e-s-i-a.org, 2021),  e É agora como nunca: Antologia incompleta da poesia brasileira contemporânea, organizada por Adriana Calcanhoto  (Companhia das Letras, 2017).