Arquivo mensais:dezembro 2010

e-books pra terminar 2010

O ano de 2010 vai entrar pra história como o ano do iPad e dos kindles. O livro-e e seus navegadores foi assunto em várias rodas, bienais, encontros literários, discussões aguerridas e polêmicas quanto à possivel e amedrontadora entrada dos livros eletrônicos que supostamente substituiriam o livro de papel.

Em 2010, pela primeira vez, viu-se que a venda de livros não folheáveis era de interesse do mercado e algumas grandes lojas começaram a exigir dos editores um exemplar eletrônico vendável para cada livro de papel. Para os poetas e leitores de poesia, interessados em literatura em geral e amantes dos objetos feitos com capricho, me parece que a novidade já está sendo benéfica e tende a ser mais ainda.

Entrando nessa onda e pra fechar o ano e preparar os ânimos para o que vem por aí, tem mais dois e-books de amigos que me deixaram cheio de entusiasmo!

Um é o excelente livro Leve, que o Marcelo Sahea disponibilizou lá no Poesilha e fica até quando. É barato: custa apenas um post no twitter ou no facebook. Não subsitui o exemplar em papel, claro (bela e caprichada edição em formato quadrado que eu já tenho!). Segundo o Marcelo, custa menos que uma sidra. Portanto, a dica é: leia o pdf e adquira seu exemplar de papel e deixa de conversa fiada sobre substituição ou não do produto manuseável.

O outro é esse que você vê acima: Do amor como ilícito, do meu amigo, sósia e irmão mais velho, o poeta belorizontino Anízio Vianna. Para quem não o conhece, Anizio é autor de Dublê de anjo e Itinerário do amor urbano, o primeiro deles vencedor do prêmio Cidade de Belo Horizonte em 1996. Artista do verbo, já defendeu mestrado sobre a performance dos rappers, traduziu poesia (colaborou no estilingue 2) e é o inventor de um negócio chamado poema-notícia. Anízio é o cara.

Tá bom pra começar, não tá? Ou pra terminar. Cliquem aí e divirtam-se.

Howl (2010)

Para ler Allen Ginsberg, assim como William Burroughs e Lawrence Ferlinghetti, é preciso esquecer a geração beat. Perdemos muito tempo tentando entender o que foi o movimento poético-cultural datadíssimo que conquista seguidores anacrônicos em pleno século XXI. Tratá-lo como um beatnik é enfileirá-lo na prateleira das coisas domesticadas ou em vias de. Perde-se assim todo o poder operatório da sua linguagem. Não. Ginsberg é como Rimbaud. Sem labels. Deixe o uivo vibrar nos seus tímpanos primeiro. E depois veja o que acontece.

Estou dizendo isso como uma resposta ao apaixonado comentário do amigo Ricardo Domeneck, que transmitiu a notícia deste filme que eu desconhecia. Howl (2010), dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman. No papel de Allen Ginsberg, o ator James Franco interpreta incrivelmente o tom de voz e o estilo sarcástico-bem-humorado.

soneto das coisas pequenas

uma cana pequena é uma caneta
a camisa pequena é camiseta
uma perna pequena uma perneta
uma bolsa pequena é uma boceta

um carro pequeno é um carreto
um disco pequeno é um discreto
um alfa pequeno é um alfabeto
um bolo pequeno é um boleto

se uma capa é pequena ela é capeta
uma réplica pequena é repleta
e se o punho é pequeno é punheta

uma mula pequena é um amuleto
quando o remo é pequeno é um arremedo
e se o sono é pequeno é um soneto

(leo gonçalves)

Dica: POEMOBILES

Foi lançado na última quinta-feira, dia 02 de dezembro, mais uma histórica edição dos POEMOBILES de Augusto de Campos. O projeto original, criado nos anos 1960 pelo artista multimídia Julio Plaza, foi maravilhosamente refeito pelo artista gráfico Vanderley Mendonça, que comanda o selo Demônio Negro. Até onde sei, quem quiser adquirir seu exemplar, deverá se adiantar: trabalho com grandes características artesanais, não durará muito no mercado.

Corre lá: www.annablume.com.br/demonionegro

Rebelião na Zona Fantasma

Nesta quarta, dia 08 de dezembro, às 20h na biblioteca Alceu Amoroso Lima (Rua Henrique Schaumann, 777 – Pinheiros – SP), Ademir Assunção apresenta a Rebelião na Zona Fantasma. O concerto, que virou disco em 2005, tem a participação dos músicos Marcelo Watanabe (guitarra), Caio Góes (baixo) e Caio Dohogne (bateria). No vídeo acima, um poemablues performado no Itaucultural.

Desarme a violência em você

Minas Gerais é o segundo estado brasileiro em quantidade de pessoas negras e seus descendentes. Esta é uma marca da mineiridade pouco comentada. Mas o traço afro tem sido a fonte do que de melhor tem-se produzido no estado. Das Noites do Griot aos duelos de MC, a cultura afro-brasileira e suas variantes tem recriado (e, talvez, subvertido) a famosa “mineiridade”.

Pois no último domingo, um visível ato de racismo chocou a cidade de Belo Horizonte. O rapper, produtor, e educador social Ice Band foi brutalmente atacado num bar do bairro Santa Efigênia. A discussão surgiu por acharem que ele era um pedinte. A conclusão desastrosa foi um linchamento que o deixou com uma clavícula quebrada, dentes afundados, vários hematomas pelo corpo, o joelho ferido e a alma dilacerada clamando por justiça. Ao procurar a polícia, também foi mal recebido. Sendo, inclusive, identificado como perturbador da ordem.

Por isso, hoje, sexta-feira, 03 de dezembro, haverá um Duelo de MCs para lançar a campanha DESARME A VIOLÊNCIA EM VOCÊ. Leia abaixo a convocatória.

Para quem não sabe, Ice Band, o Hudson, é um sobrevivente da guerrilha urbana. Ex-bandido, traz no próprio corpo as marcas de sua história. Sua vida hoje é dedicada a tirar os jovens da situação arriscada do crime como educador social. É convidado para falar de sua experiência em todo o Brasil e é respeitado por rappers e artistas. O conheci em 2008 por ocasião do lançamento da revista Roda – Arte e Cultura do Atlântico Negro, nº 6, na qual ambos colaboramos. Uma pessoa dócil e agradável, casado com a generosa jornalista Janaína Cunha Melo com quem tem um filho.

Esperamos que a justiça seja feita, que os agressores sejam realmente punidos e que esse tipo de situação (tema de um dos raps do Ice Band) pare de ocorrer definitivamente.

Para saber mais sobre o triste fato, leia as notícias no Estado de Minas, no jornal O tempo e com destaque especial, esta crônica de Silvana Mascagna. Sugiro ainda, muito especialmente, que você ouça um pouco do trabalho do Ice Band lá no Myspace.

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CONVOCATÓRIA

O Centro de Referência Hip Hop Brasil, a Família de Rua e o Coletivo Nospegaefaz convidam militantes do hip hop, ativistas dos movimentos sociais e populares, artistas, representantes de organizações da sociedade civil e amigos a participarem do lançamento da campanha DESARME A VIOLÊNCIA EM VOCÊ, nesta sexta-feira, dia 3 de dezembro, a partir das 20h, no Duelo de MC’s, em frente à Serraria Souza Pinto.

Esta ação presta solidariedade irrestrita ao rapper e arte-educador Hudson Carlos de Oliveira, o Ice Band, que foi covardemente agredido domingo passado, em crime de motivação racista e de intolerância,em frente ao monumento de homenagem a Zumbi dos Palmares, no bairro Santa Efigênia.

A partir de agora, todas as sextas-feiras um muro da cidade receberá a intervenção de um artista plástico de periferia, até que o processo judicial se encerre com a condenação dos culpados por este ato de barbárie que fere a dignidade humana e os direitos civis de todos os brasileiros. Em defesa da vida, da liberdade e da justiça, participe.

Informações: crh2b@yahoo.com.b

Revista Celuzlose

Está no ar a revista Celuzlose nº 07. Para quem não conhece a revista, é uma iniciativa bacana, divulgando de tempos em tempos novidades e perenidades da poesia brasileira viva. No número 07, você lê uma entrevista com Armando Freitas Filho e alguns de seus poemas, Bruno Brum, Roberta Ferraz, Thiago Ponce de Moraes, Chiu Yi Chih, o chileno recém-camarada Ignacio Muñoz Cristi. Ana Ramiro e Beatriz Bajo falam na sessão “O que é poesia”. André Dick fala sobre Rimbaud e disponibiliza algumas traduções-invenções, de sua autoria. E tem ainda o poeta e tipógrafo ouropretano Guilherme Mansur, com uma sequência de poemas visuais! Uma belezura.

Além de folhear a revista Celuzlose nº 7 aqui no Salamalandro, você pode também descobrir os outros números no www.celuzlose.blogspot.com

Vale a pena!